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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Entrevista com Márcio Américo







Giovania: Você poderia nos contar um pouco sobre o seu livro ‘Meninos de kichute?’
Marcio: Morava em São Paulo, trabalhava na rede tv e eu sai de lá. Dai desempregado e sozinho, eu comecei a escrever um livro, escrevi na verdade um conto sobre a minha infância daí gostei do estilo e fui escrevendo um conto, ai fui pro segundo, voltei pra Londrina. Conheci minha esposa Renata, ela leu e foi dando algumas sugestões, continuei escrevendo e quando vi tinha um livro. Levei assim, uns dois meses e lancei através do PROVIC é um incentivo a cultura de Londrina, que na época funcionava muito, e lancei mil exemplares, e um desses exemplares o Luca Amberg achou aqui na secretaria de cultura, ele adorou a história e por acaso me ligou falando:’Oi eu sou Luca Amberg e eu quero fazer um filme do seu livro’, ai a gente sentou ali na lanchonete e fechamos o contrato. E eu tinha uma exigência só, que era participar do roteiro e acabei participando do filme todo. Ajudei na arte, na pesquisa de arte, na trilha sonora. Ajudei na preparação dos meninos, foram mais de 700 meninos que se inscreveram pra participar do filme, foi muito bom.’

Natália: Quais as dificuldades que você encontrou na hora das filmagens, ouve algum momento de tensão ou algum momento engraçado?
Marcio: A maior dificuldade foi conseguir dinheiro, a primeira coisa foi receber o premio da Petrobras e outro da Savesp, um de iniciativa privada e mais um, se eu não me engano, da Eletrobrás, foi todo o dinheiro que a gente conseguiu. Foi muito difícil fazer o filme e momento de tensão tem sempre, porque cinema é a arte do acaso, você ta no set e chove, o ator cai, você precisa de uma mesa e não tem a mesa que você queria e tem que improvisar, é corrido. Momentos hilariantes acontecem direto, fazer um filme é sempre uma piada porque cinema é a arte do acaso, acontece de tudo, tudo é demorado, nossa pra fazer uma cena como demora. Paulo Bet dizia que se baixar um disco voador aqui no set de cinema os cara não consegue gravar porque não dá tempo, até montar luz, chamar o diretor de fotografia, enfim.
O Silvio Brito teria uma música no filme, e fizemos uma cena em que ele tocaria violão e cantaria uma música no filme. Mas ai foi cortado, ao invés da festa de aniversário fizemos uma festa junina e ele não teria lugar. E a gente queria uma cena pra ele em que ele salvaria o menino que foi atropelado, aí no dia que ia gravar, que ia falar ‘ação’ caiu um toró, puta chuva. Aí fecho, amanhã a gente grava então as 7 da manhã, e quando chegou 7 da manhã ele não foi, passou 7 da manhã, 8 e nada, então eu falei ‘então vamo gravar’ ai a gente usou outra pessoa. Ele falou que achava que era mais tarde a gravação. Então eu falei, ‘espera ai que eu vou te escrever uma cena na igreja' em que ele chegava e cumprimentava o Werner. Ele fez. Foi cortada. Aí ele ficou fora do filme, falou pra todo mundo, falou até no Silvio Santos. Infelizmente ele ficou fora, só apareceu nos extras.

Giovania: Como está a situação do cinema brasileiro?
Marcio: O cinema não tem dinheiro, você tem que ficar pedindo esmola pra fazer filme. Porque você tem duas coisas, você tem pessoas querendo fazer filmes autorais, filmes onde ele tem uma história original pra contar, que você tem algo a dizer, essas pessoas não conseguem fazer porque os filmes brasileiros são feitos todos com financiamento público, então jamais o governo vai te dar dinheiro pra você falar mal to PT, jamais o Lula vai te dar dinheiro pra você falar mal do Lula, ou falando mal do Brasil num todo. As pessoas estão fazendo comédias românticas ‘Se eu fosse você’ que tem milhões de espectadores, ‘Divã’, o outro lá da menina que tem uma loja de sexshop, ’O homem do futuro’ que são comédias românticas, coisas que não fazem mal a ninguém. É essa a situação que se encontra o cinema brasileiro. E principalmente você tem que conhecer pessoas, você tem que ter apariguados pra você conseguir dinheiro, porque o cinema é uma arte muito cara, tanto é que ‘O menino de kichute’ tá ai pra ser lançado a 3 anos e a gente não consegue, porque não se tem dinheiro.

Giovania: Você faz stand up comedy, qual que você acha mais prazeroso? Quais são as principais diferenças entre escrever um livro e fazer essa comédia?
Marcio: ‘É muito diferente a literatura do stand up comedy, um livro por exemplo, você pode escrever 3 páginas sem uma coisa engraçada, e quando essa coisa coisa engraçada aparecer, ela vai ficar muito engraçada, porque é um livro. No stand up comedy se eu levar mais de 15 segundos sem ter algo engraçado, fudeu. Aí o show ta uma merda, a pessoa fala ‘ãhnn’ e daí fica difícil, então o stand up é como ryky e se você não sabe o que é, vai procurar no google seu burro. Ryky são poemas japoneses feitos em 3 linhas que são simetricamente, o stand up é muito parecido, você coloca a preposição numa linha e a piada na outra, então a piada de stand up é de no máximo 3 a 4 linhas você já tem que ter uma piada, essa é a grande dificuldade e é isso que faz com que muitas pessoas tentem fazer stand up e sejam muito sem graça porque não tem essa técnica.
E se eu prefiro um ao outro? São coisas muito distintas, eu gosto muito, na verdade eu gosto muito de livros, eu gosto muito de literatura, de crônica, de contos, de romance, de romance policial, é o que eu gosto mais, porque stand up dá muito trabalho fazer isso, você tem a idéia de falar ‘puts eu vou falar de estudantes, estudante é engraçado, por isso’ mas até te vem umas idéias mas tentar condensar isso, porque no stand up se uma palavra tiver deslocada na frase ela não tem graça. (vídeo) Porque vocês mulheres podem olhar na cara do médico durante o exame, tem que terminar com a palavra mé-di-CU, porque a palavra médico é a piada, então olha a dificuldade, mas é claro que o público não percebe isso. Se você olhar um profissional, qualquer um que seja, fazendo alguma coisa, e se você achar fácil, é porque ele é bom.

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